Há um propósito para o sofrimento? - Parte 3

"No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo". (João 16:33)




Entendemos, no último post, que o diabo reina sobre este mundo, devido à desobediência do homem e, por isso, estamos sujeitos a todo tipo de mal.

Nesta parte 3, buscaremos compreender, à luz das Escrituras, quais as formas pelas quais o mal age, atingindo mesmo aqueles que procuram viver em santidade e obediência a Deus.

Primeiramente, há algo que precisa ficar claro: como o mundo está dominado pelo mal, este atinge a todos, indistintamente, pelo simples fato de vivermos em um lugar governado pelo príncipe das trevas. 

Assim, ainda que vivamos uma vida de obediência a Deus, que sejamos sensíveis à voz do Espírito Santo e façamos exatamente aquilo que Deus nos chamou para fazer, buscando viver uma vida de santificação, não estaremos totalmente imunes ao mal que reina neste mundo. 

Na Bíblia, vemos alguns exemplos de homens que enfrentaram muitas tribulações, mesmo sendo justos. 

Vemos, por exemplo, a vida de José que, por inveja dos irmãos, foi vendido como escravo e passou vários anos de escravidão e humilhação no Egito, chegando a ser preso, sem qualquer culpa. O motivo de sua prisão, inclusive, foi seu temor ao Senhor, pois recusou-se a manter relações sexuais com uma mulher casada, prática que José sabia que ofendia a Deus. Mesmo sem ter dado causa, José foi vítima do mal que achou lugar no coração de seus irmãos.



Você pode argumentar: mas não foi Deus quem "permitiu" que isso acontecesse, para que, anos depois José fosse exaltado e, como governante do Egito, pudesse ajudar a saciar a fome de seu povo?

Bem, a Bíblia não diz isso. Deus sabia o que aconteceria e Ele, sem dúvida, usou a vida de José para livrar o povo hebreu da fome que sobreviria após muitos anos. Certamente, Deus também agiu naquela situação para trabalhar no coração de José e de seus irmãos. Mas isso não significa que Deus manipulou a situação, plantando a inveja na mente dos irmãos de José para que a história chegasse ao desfecho "desejado" por Ele. 

Esse mesmo Deus que, para saciar a fome do Seu povo no deserto, séculos mais tarde, faria cair pão do céu, poderia suprir a necessidade da família de Jacó de qualquer outra forma, sem, para isso, precisar entregar a vida de José nas mãos de seus irmãos invejosos.

Outro ponto que merece destaque é que, como seguidores de Cristo, somos participantes dos Seus sofrimentos. É o que está escrito na primeira carta do apóstolo Pedro:

"Mas alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo, para que também, quando a sua glória for revelada, vocês exultem com grande alegria". (1 Pedro 4:13)

O apóstolo Paulo, ao escrever aos filipenses, também chamou atenção para esse aspecto da vida cristã:

"pois a vocês foi dado o privilégio de, não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele..." (Filipenses 1:29)

Essa revelação a qual chegaram os apóstolos representa, na prática, aquilo que Jesus já havia dito aos discípulos sobre o que significava segui-lo:

"Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me".(Lucas 9: 23).

Seguir a Cristo implica uma mudança de direção e passar a andar no caminho que Ele trilhou. Por isso, Ele diz:

"Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim". (João 14:6).

Jesus é o caminho que nos reconcilia com o Pai e, para sermos seus discípulos, precisamos aprender a ser como Ele e isso implica em carregarmos uma cruz. O peso da nossa cruz não se compara ao da que Cristo precisou levar. Ainda assim, é necessário certo esforço e dedicação, para conhecer mais a Cristo, a fim de que nossas palavras, ações e pensamentos estejam alinhados ao caráter dEle.

Tomar minha cruz significa deixar de satisfazer minhas vontades para percorrer o caminho da vontade de Deus para minha vida. Carregar minha cruz implica calar quando eu desejo falar, ser mansa quando eu quero esbravejar, me submeter quando eu desejo assumir o controle, enfim, fazer escolhas que levem em conta os mandamentos de Deus em detrimento dos meus sentimentos e meus melhores argumentos.

Da mesma forma que a cruz, para Jesus, foi o sinal de obediência dEle ao plano de redenção do Pai,  para nós, tomar diariamente a nossa cruz significa andar em obediência. E isso nem sempre é fácil, pelo contrário. Abrir mão do que considero "meus direitos" por pura submissão a Deus, como Jesus fez, é difícil e, em alguns momentos, pode causar sofrimento.

A boa notícia é que também somos participantes da glória de Cristo e, melhor, ainda, a Bíblia nos garante que nossos sofrimentos terrenos são leves e momentâneos, comparados à glória eterna que nos aguarda (2 Coríntios 2:17).

Quando esteve entre nós, como homem, Jesus sofreu perseguições e foi humilhado. Assim também aqueles que caminham com Ele são alvo de perseguição.

O apóstolo Paulo, após sua conversão, passou a viver exclusivamente para anunciar a verdade do Evangelho. Foram anos de um ministério intenso e impactante que deixou suas marcas na história do cristianismo. Mesmo sendo servo fiel, zeloso cumpridor da Palavra de Deus e do serviço que o Senhor o confiou, Paulo foi afligido por muitas tribulações. Foi preso, açoitado,  julgado e condenado à morte, pelo simples fato de anunciar o Reino de Deus, trazido por Jesus Cristo (Atos 12, 16, 22 e 23).



Percebe-se, portanto, que a vida cristã não é um mar de rosas e, mesmo que eu ande piedosamente, em obediência à Palavra de Deus, estarei sujeita às tribulações advindas de um mundo onde impera o mal.

Compreendemos, ainda, que muitas dessas tribulações ocorrem justamente porque somos discípulos de Cristo e o inimigo de nossas almas deseja nos tirar do foco e nos impedir de realizar o que Deus quer que façamos, por isso empreende perseguições contra nós.

O próprio Jesus nos advertiu de que enfrentaríamos aflições neste mundo, ao mesmo tempo em que nos encorajou a termos bom ânimo (João 16:33).

É oportuno relembrar que essas aflições e perseguições não vêm de Deus. 

Vejamos, em alguns trechos da Bíblia, qual a origem das perseguições enfrentadas por Cristo e pelos discípulos:

"Em sua viagem, quando se aproximava de Damasco, de repente brilhou ao seu redor uma luz vinda do céu. Ele caiu por terra e ouviu uma voz que lhe dizia: 'Saulo, Saulo, por que você me persegue'. Saulo perguntou: 'Quem és tu, Senhor?' Ele respondeu: 'Eu sou Jesus, a quem você persegue'." (Atos 9:3-5)

Se você já leu a história do apóstolo Paulo, deve saber que ele perseguia os cristãos de sua época. Jesus já havia morrido, ressuscitado e subido aos céus, quando apareceu para Paulo (ainda chamado Saulo) na estrada de Damasco.

Antes de seu encontro com Cristo, Saulo, que veio a se chamar Paulo, era mensageiro de Satanás, usado por ele para perseguir os cristãos. 

Nesse trecho do livro profético de Apocalipse, Jesus fala sobre a perseguição que a igreja enfrentaria, nos primeiros séculos de existência, e Ele aponta a fonte das perseguições:

'"Não tenha medo do que você está prestes a sofrer. Saibam que o diabo lançará alguns de vocês na prisão para prová-los, e vocês sofrerão perseguição durante dez dias. Seja fiel até a morte, e eu lhe darei a coroa da vida." (Apocalipse 2:10)

A perseguição vem de Satanás, através de pessoas cujas vidas estão afastadas da comunhão com Deus e, portanto, entregues à influência do mal. Ele é o inimigo de nossas almas. Foi a respeito dele que Jesus falou:

"O ladrão vem apenas para furtar, matar e destruir..." (João 10:10a).

Por sua vez, Deus, através de Cristo, tem vida abundante para nós:

"eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente" (João 10:10b).

Não foi Deus quem perseguiu Paulo e os outros apóstolos, para aperfeiçoá-los na fé, como já ouvi ser dito algumas vezes no meio cristão. Do mesmo modo, não é Deus quem nos persegue e nos aflige com tribulações, ainda que Ele use esses momentos para nos moldar, como vasos nas mãos do oleiro.

Em outra oportunidade, veremos como Deus, em sua misericórdia, age em nossas vidas, em meio às aflições, nos fortalecendo e lapidando nosso caráter.

Com isso, amados irmãos, concluo esta parte do estudo, a respeito das tribulações que nos atingem sem que tenhamos dado causa, pelo simples fato de vivermos num mundo cujo domínio foi entregue ao maligno.

Na próxima parte desse estudo, meditarei sobre a Lei da Semeadura e sobre como alguns dos sofrimentos pelos quais passamos podem ter sua explicação no cumprimento desta lei espiritual.

Que a maravilhosa graça e a plena paz do Senhor Jesus sejam com você.

Bruna Monastirski.
Discípula de Cristo.






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