MINHA HISTÓRIA COM O UBER

Assim que surgiu a novidade "aplicativo de carona", eu logo duvidei que essa mania fosse pegar.

Deus me livre! Pegar carona com alguém que não conheço??!! Isso é coisa de gente inconsequente!

Quando precisava, pegava um táxi.

Mas o serviço de táxi já não andava lá essas coisas... carros velhos, mal cuidados, não valia o preço que eu pagava numa corrida

Me rendi ao aplicativo de caronas.

Depois de testado e aprovado pelas pessoas que eu considero prudentes, finalmente decidi trocar o táxi pelo uber.

Reconheço que não gostava muito.

Bom mesmo era quando meu marido ia de carona para o trabalho e me deixava com o carro.

Eu gosto de dirigir (ou gostava, na época). Sentia liberdade.

Compramos outro carro. Viva! Adeus, uber. Já vai tarde! Até nunca mais...

Ledo engano...

Tivemos de vender um dos carros. Pouco tempo depois, nos mudamos. Agora, morando mais distante, e dividindo o carro com meu marido, eu via o cuspe cair, em câmera lenta, na minha testa.

É... cuspi para cima, deu nisso.  Lá vamos nós de uber de novo...

Para piorar, onde moro é muito difícil pegar uber. O app demora a encontrar um motorista. Quando encontra, o tempo estimado de espera chega a 15 minutos. Como se não bastasse, muitos motoristas cancelam a viagem, quando descobrem que terão de entrar no condomínio.

Que raiva, viu?! Quem esses motoristas pensam que são para recusarem minha corrida??  Por acaso, moro em alguma favela? Isso é um absurdo, falta de respeito, aff. Pois é. Pensamentos de orgulho e presunção vez por outra pousam aqui também. Sou pecadora.

Um dia, eu estava pra lá de irritada com mais uma tentativa de pedir um uber para ir ao trabalho. Atrasada, suando, e tendo que explicar ao quinto ou sexto motorista que ele teria de entrar no condomínio (os anteriores tinham cancelado a viagem). Meu marido, tentando me acalmar, disse: deve ser ruim pra o motorista entrar no condomínio, porque ele perde tempo.

Minha resposta? - Pois ele que mude de profissão, então! Agora pronto! Eu estou pedindo favor?

Fiquei ainda mais irritada.

Encerrei 2021 esgotada. Tirar férias e, entre outras coisas,  não precisar pegar uber, foi um alívio.

Férias chegando ao fim, e volto a ser usuária do aplicativo de carona. Em minha mente, lembranças nada animadoras de experiências vividas pegando uber.


Dirija com o app da Uber: uma alternativa aos empregos de motorista  tradicionais | Uber

 

Um dia, o motorista teve a coragem de aceitar a viagem, com o seu carro quase ficando "no prego". É sério! O carro ficava só desligando. E o motorista ligava ele de novo. Bastava reduzir a velocidade, que a lata velha desligava. E eu pensando se chegaria ao trabalho naquele dia e me perguntando por que cargas d'água aquela criatura saiu pra trabalhar com o veículo naquelas condições.

Outra vez, peguei uber confort para não derreter no calor e, adivinhem! O cara não ligou o ar condicionado! Paguei caro e suei horrores.

Outro dia, o motorista não tinha troco (eles nunca têm). Eu, que sempre levo dinheiro trocado, nesse dia só tinha uma nota de cem. Tento pagar pelo pix, mas dá problema no aplicativo do banco. Precisava atualizar o app e, sem wi-fi, não consegui. 

Sugiro fazer transferência bancária: Tem conta no BB, moço? "NÃO!" Lá vou eu fazer um DOC, pagar o dobro do valor da corrida por causa da tarifa bancária.

No meio da tarde, a recepcionista de onde trabalho me procura: "Dona Bruna, tem um rapaz aí na recepção lhe procurando.  Diz que é uber e lhe deixou hoje cedo aqui." - Agora mais essa, o que terá sido?

Visivelmente nervoso, o rapaz diz: "o dinheiro não caiu na conta, dona!" Eu mostro o comprovante  a ele, e explico que transferência entre bancos diferentes é assim mesmo, demora um pouco mais para "cair". Além da chateação, o constrangimento. As pessoas na recepção perceberam que o uber estava me cobrando, imaginei.

Prometi a mim mesma: uber, nunca mais! Passo mais esse vexame não!

Semana seguinte, não tive escapatória. Sem carro, sem dinheiro sobrando pra pegar um táxi.nO transporte público onde moro se resume a uma linha de alternativo, que deve passar dia sim e dez não, porque nunca cheguei a ver a "besta" nesse quase um ano que moro lá.

Tive de morder a minha língua, engolir o orgulho ferido e pegar mais um uber...

A Redenção

2021 foi ano de mudança e, com ela, um certo caos se instaurou na minha vida. Cheguei ao dia 31 de dezembro desapontada. A sensação era de que eu não tinha feito quase nada do que eu gostaria de ter feito.

Uma das maiores frustrações era ter lido pouco. Nem a Bíblia eu tinha lido regularmente. Escrever é parte elementar de quem eu sou. Mas, ano passado, quase não escrevi. Faltou tempo.

Este ano, decidi mudar esse cenário. E o que o uber tem a ver com isso??

Bem, ao final das minhas férias,  voltei a trabalhar presencialmente todos os dias. O carro fica com Klayson, para que ele deixe nossas filhas na escola. Não restou opção senão me acostumar com o uber. Me programei para pedir com 15 minutos de antecedência. Agora não me atraso mais! (assim espero!) 

 


img. Getty

No primeiro dia, decidi conversar com o motorista sobre a dificuldade para conseguir um uber no meu endereço. Ele explicou que muitos motoristas cancelam a viagem quando o embarque vai ser em condomínio ou supermercado. Porque, disse ele, os usuários "pensam que uber é táxi" e querem transportar a feira do mês, e ainda pedem ajuda do motorista para carregar e descarregar a "bagagem", isso em uma "corrida de dez reais" 

Esclareceu, educadamente, que uber não é táxi e que algumas pessoas confundem isso e querem pagar tarifa de uber para ter serviço de taxi. Que tarifa de uber é definida pelo app, então os motoristas acabam escolhendo os melhores roteiros possíveis, para tentar ganhar um pouquinho mais e valer a pena continuar trabalhando como motorista de aplicativo. 

Disse também que costuma perder muito tempo para entrar nos condomínios, esperando ser liberada a entrada pela portaria. Além disso, o gasto de combustível é maior, então, não compensa, porque o aplicativo só paga pelo percurso solicitado pelo usuário.

Eu ouvia o rapaz falar e junto com a voz dele, na minha mente, vinham todos os meus comentários e julgamentos a respeito dos motoristas de uber.

Senti vergonha. Como eu pude ficar com a visão tão embaçada,  a ponto de não perceber o egocentrismo em minha forma de pensar?
Como pude não enxergar que, para além das minhas necessidades de conforto e bem estar, existem pessoas batalhando diariamente para ter o pão, ou para complementar sua renda, pessoas para as quais o salário não cai na conta todo mês?!

E, rapidamente, a ficha caiu. 

2021 não foi um ano fácil para mim, de fato. Mas, olhando pelo retrovisor, percebo como deixei que as circunstâncias e o caos externo afetassem meu interior.

Como me perdi em tantas tarefas "urgentes" e deixei de lado outras tão necessárias. Negligenciei a leitura regular da Biblia. Orei menos. Louvei menos. Fui menos grata.

A soma dessas atitudes aparentemente pequenas resultou em uma pessoa murmuradora, egocêntrica e infeliz. A mesma pessoa que vocês enxergaram nos dois primeiros posts desta "saga". Essa sou eu, quando Jesus deixa de ser meu amigo de todos os dias para ser coadjuvante.

Jesus disse: "sem mim, vocês nada podem fazer" (João 15:5). Reconheço que, no ano que passou, esqueci desse alerta do Senhor.

Hoje, refletindo sobre isso, pareço ouvir a voz suave do Mestre: "filha, eu te ajudo, não tente dar conta de tantas coisas sozinha".

Determinei, eu meu coração, que voltarei a ler a Biblia todos os dias, além de outros livros que me ajudem a ser uma pessoa melhor. Levo o livro da vez na bolsa e aproveito a viagem de uber para ler. Se esqueço o livro, abro o app da bíblia e leio algum texto.

Durante a corrida, leio, escrevo (digito). Também  faço lista de compras, pago contas e respondo mensagens. Escrevi parte deste texto dentro de um uber.

Reclamei tanto da falta de tempo! A oportunidade de remir o tempo esteve sempre aqui e eu não percebia. Desta vez, ela não me escapa.

Fiz as pazes com o uber.

Outro dia, depois de um início de dia um pouco agitado, pego o uber e começo a ler e me deparo com um texto que aquece meu coração e me leva às lágrimas, ali mesmo.




Respiro, tento não fungar muito. Mas permito as lágrimas. E começo meu dia cheia da graça de Deus. Graça que transbordou por meio daquela leitura. Leitura que eu não teria feito a caminho do trabalho se não tivesse no uber.

 

Bruna Monastirski 

Discípula de Cristo

  

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