COM EMOÇÃO OU SEM EMOÇÃO?
Dia desses, na mesa do jantar, Klayson e eu contávamos histórias sobre o tempo de namoro e outras sobre o início do casamento.
Helena olhou pra mim e perguntou: “Nossa, vocês não têm histórias mais emocionantes para contar não?”
Aquela
pergunta me desmontou, por uns instantes. “Como assim???" Retruquei.
"Quem é você para dizer que minha vida é sem graça?” Pensei.
Rapidamente,
dei uma resposta àquela “afronta” em forma de pergunta (embora não
tenha sido essa sua intenção, foi como me senti).
E disse, com
um sorriso de canto de boca: “é que a parte emocionante a gente não
conta pra vocês”.
Elas riram rsrs.
Quer dizer, Helena riu. Julya fez uma
cara de “mãe, não começa de novo com esse assunto!”.
A verdade é
que nem eu me convenci com a resposta que dei, e fiquei realmente
incomodada com a impressão de Helena a meu respeito. E me perguntei se a
minha vida não andava tão séria e chata a ponto de fazê-la pensar
daquela maneira.
Bem, há uma ressalva necessária: não sei por
qual razão, mas a maioria das pessoas acha que eu passo 24 horas por dia
séria, que não conto piada, não rio de piadas, não me irrito, não perco
a paciência.
Não sei exatamente por quê, mas diz a lenda que eu não sou de carne e osso. É como se eu fosse a Monalisa presa num quadro, cuja respeitabilidade não lhe permite mais que um discreto sorriso.
É
verdade que eu não sou de muitos sorrisos, nem piadas, nem sou efusiva
nas minhas emoções, especialmente com os de fora. Mas, espera aí, minha
filha achando isso de mim? Logo ela, que me vê nos meus momentos mais
espontâneos e engraçados?
Não admito! Isso tem que mudar...
Mas,
para que isso aconteça, eu preciso mudar. Preciso ser mais
transparente, e me permitir ser quem eu sou, especialmente na presença
dos meus. Tenho que rir mais, brincar mais, admitir mais os meus erros,
pedir mais desculpas, expressar meus sentimentos, beijar mais...
Enfim, há uma mudança de rota que precisa ser iniciada. Eu reconheci isso e comecei caminhar nessa nova direção...
Mas essa não foi a única reflexão surgida da frutuosa conversa ao redor da mesa.
Bem,
quando minha filha define minha vida amorosa como "sem
grandes emoções", há outra questão de fundo muito importante:
Que tipo de ideia tem sido vendida culturalmente sobre o relacionamento amoroso, que foi absorvida pela mente de Helena?
O que a faz achar que um casal comum, com histórias comuns para contar, vive uma história sem graça?
Que uma vida pacata e comum talvez não seja sinônimo de uma vida feliz?
A resposta é até simples:
Costumamos
idealizar uma vida a dois repleta de eventos extraordinários, flores,
jantares, declarações públicas, festas, surpresas, presentes.
Compramos essa ideia, vendida pelos contos de fadas, novelas, séries de TV e filmes hollywoodianos.
Queremos viver amores intensos e cheios de emoção, de tirar o fôlego.
Não é que isso seja ruim. Ao contrário! É bom e faz parte! Doses terapêuticas de um amor exagerado, quem não gosta!?
Mas,
na verdade, a vida real de um casal é construída de coisas triviais,
que, apesar de ordinárias, sustentam e dão vida aos relacionamentos
felizes e duradouros.
Eu aprecio receber demonstrações mais intensas de amor, sim!
Mas o meu casamento não se sustenta dessas demonstrações. Ele se alimenta das coisas comuns e cresce por causa delas.
As
coisas extraordinárias são como o acabamento de um edifício, que serve
para embelezar, e tornar mais agradável, mas seria inútil se não
houvesse alicerce, paredes, teto, colunas, vigas, etc.
As grandes
emoções fazem parte da vida a dois, como uma sobremesa que comemos após
o almoço do sábado, que gera uma chuva de dopamina, endorfina e outras
"inas".
Mas a verdadeira nutrição vem do feijão com arroz de
todo dia, do cuidado com o outro, da mesa do café arrumada por quem saiu
mais cedo, da massagem nos pés de quem está mais cansado, do abraço
acolhedor ao chegar em casa após um dia cheio.
O sentimento de pertencimento é gerado nessas pequenas coisas.
E não há nada que emocione mais do que a certeza de pertencer a alguém!
Bruna Monastirski
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