Há um propósito para o sofrimento? Parte 5

Seremos aprovados?



Nos posts anteriores, refletimos sobre alguns dos motivos pelos quais somos afligidos por provações. Entendemos que não é Deus quem nos inflige sofrimento, pois Ele é amor e, como Pai amoroso, tem o melhor de si para nós.

A partir de agora, vamos meditar sobre o agir de Deus em meio ao sofrimento. Mesmo não sendo Ele a origem das nossas aflições, Deus, em sua bondade, nos faz extrair coisas boas de momentos difíceis, pois Ele é um Deus que transforma maldição em bênção.

Um dos propósitos de Deus nas aflições é nos conduzir a uma maior intimidade com Deus, uma busca mais intensa por conhecê-lo.

Vejamos um exemplo bíblico dessa verdade:

Na famosa história de Jó, um homem que perdeu todos os bens e os filhos e foi afligido em sua própria carne com doenças, observamos que o sofrimento suportado por ele serviu para que ele conhecesse a Deus de uma maneira mais profunda.

O próprio Jó reconhece que, antes das tragédias que o atingiram, seu relacionamento com Deus era superficial:

"Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram". (Jó 42:5)

Jó conhecia Deus apenas de ouvir falar e o relacionamento dele com o Criador era distante, mas depois de tanto sofrimento, ele começa a buscar respostas de Deus e, nessa busca, ele compreende que não conhecia a Deus de perto.

Outro fruto gerado pelas tribulações em nossas vidas é que estas produzem em nós um caráter aprovado diante de Deus.

O apóstolo Paulo, ensina, em sua carta aos Romanos:

"Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. (Romanos 5:3-4).

As tribulações funcionam, no âmbito espiritual, como as provas escolares funcionam para os estudantes. Na escola, os professores ministram o conteúdo e, ao final de um período, são realizadas provas, mediante as quais será aferido o aprendizado dos alunos.

Na vida do discípulo de Cristo, ocorre de maneira semelhante: aprendemos a Palavra, somos ensinados a andar em fé, em gratidão, a perseverar, a perdoar, e, em alguns momentos, somos submetidos às provas, que testarão a nossa fé e mostrarão quem realmente nós somos: se discípulos verdadeiros ou meros simpatizantes do Evangelho.

Uma vez aprovados, ou seja, tendo passado pela prova mantendo firme a fé em nosso Senhor e aprendido algo dEle durante o processo, saímos  mais fortes, experientes e com a nossa esperança renovada. 

E a nossa fé, como um músculo que foi bastante exercitado, fica ainda mais resistente às lutas vindouras.

A Bíblia está repleta de textos que ensinam como devemos enxergar as tribulações e o que elas devem produzir em nós. Vejamos alguns deles:

"Meus irmãos, considerem motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas provações, pois vocês sabem que a prova da sua fé produz perseverança. E a perseverança deve ter ação completa, a fim de que vocês sejam maduros e íntegros, sem lhes faltar coisa alguma. Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam". (Tiago 1: 2-4,12)

"Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação. Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado". (1 Pedro 1:6-7)

Ao meditar nesses textos, podem surgir algumas perguntas: como passar pelas provações da forma como a Bíblia ensina? Como perseverar na fé e me alegrar, apesar das tribulações? Como adquirir maturidade nas adversidades?

O próprio Jesus falou a respeito disso, no capítulo 7 do Evangelho de Mateus:

"Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha." (Mateus 7:24-25)

Veja que, nesse texto, Jesus compara aquele que ouve e pratica as Suas palavras a alguém que construiu sua casa sobre a rocha, com alicerce firme e inabalável.

Assim, com esse texto da Palavra do Senhor, aprendemos que não basta ouvirmos a Palavra de Deus, ou crermos que ela é a verdade. Nossa fé deve se traduzir em atitudes. Precisamos praticar os ensinamentos de Cristo.

"Aquele que diz: Eu conheço-o, e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso, e nele não está a verdade. Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de Deus está nele verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele. Aquele que diz que está nele, também deve andar como ele andou." (1 João 2:4-6)

Por outro lado, aquele que ouve as palavras de Jesus e não as pratica, é chamado de insensato e comparado a alguém que construiu sua casa sobre a areia e, ao enfrentar tempestades, tem sua casa destruída (Mateus 7: 26-27).



E como não ser destruído durante as tempestades?

Há um texto na Bíblia que nos ensina a agradecermos em todas as situações 1 Tessalonissences 5:18).  Podemos, sim, ser gratos em todos os momentos, inclusive nos mais difíceis. Mas isso não implica que não sofreremos durante o processo.

Pouco antes de ser entregue para passar por intenso sofrimento, Jesus se sentiu triste e angustiado:

Então Jesus foi com seus discípulos para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: "Sentem-se aqui enquanto vou ali orar". Levando consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Disse-lhes então: "A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo". (Mateus 26:36-38)

O lado divino de Cristo estava pronto para o sacrifício que estaria por vir, mas o Cristo homem se angustiou. E, para vencer a sua carne, Ele se retirou para orar e pediu ajuda aos seus discípulos, advertindo-os, em seguida, porque tinham adormecido:

"Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca". (Mateus 26:41)

Ao ler toda a passagem de Jesus no Getsêmani (Mateus 26:36-46), observamos que o Mestre se retira para orar três vezes e, por duas vezes, pede ao Pai que, se possível, afaste dele o castigo que receberia pelos pecados de toda a humanidade. Ao término do terceiro momento de oração, Jesus retorna com outra atitude. Antes, estava profundamente contristado. Depois de orar, Jesus volta pronto para ser entregue, para obedecer ao Pai e cumprir a sua missão:

"Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores. Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima". (Mateus 26:45b‭-‬46)



Como aprendemos com o exemplo de Jesus!!!

Podemos passar por provações tremendas sem sucumbir nem desistir de nossa fé. Como? Mantendo nossa conexão com o Pai. Quando apertar a dor e o desespero quiser tomar conta de você, retire-se e derrame-se na presença de Deus.  Diga a Ele como se sente. Com nosso Pai, não precisamos usar máscaras. Podemos ser exatamente quem somos, porque Ele nos conhece intimamente e, o melhor de tudo, entende o nosso desespero e os nossos sentimentos mais intensos, porque Ele próprio experimentou a humanidade, ao se fazer carne, em Cristo Jesus.

E então, quando você passar pela prova e continuar de pé, quando vierem outras tempestades, você sabe que as suas estruturas estão firmes e mesmo que tudo seja colocado pelo avesso, você ainda estará lá, porque existe uma rocha, um Deus maravilhoso, que por Sua Palavra te sustenta. 

Outra obra linda que Deus pode fazer conosco em momentos difíceis é nos usar para consolar e edificar pessoas que estejam passando por situações semelhantes àquelas pelas quais passamos. Sobre isso, escreve o apóstolo Paulo:

"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, que nos consola em todas as nossas tribulações, para que, com a consolação que recebemos de Deus, possamos consolar os que estão passando por tribulações". (2 Coríntios 1:3-4).

Deus pode nos ensinar muito nos desertos que atravessamos, mas, para isso, precisamos estar dispostos a aprender.




Passadas as tempestades, se tivermos os ouvidos atentos à voz de Deus e o coração disposto a servir, Ele usará nossa vida para trazer alento a pessoas em dificuldades. É tremendo como isso acontece! Se você deixar Deus agir, através de você, para sarar as feridas dos outros, Ele cuidará de você e irá sarar tuas feridas!

Da mesma forma como somos consolados pela Palavra de Deus durante as provações, devemos consolar aqueles que estão ao nosso redor. 

Jamais terei condições de encorajar efetivamente alguém que esteja enfrentando as intempéries desta vida se eu mesma não tiver vivenciado lutas em minhas caminhada. No máximo, direi algumas palavras de conforto, esvaziadas de significado, porque serão apenas palavras, apesar de toda boa intenção que possa existir nelas.

Mas quando você já passou pelo fogo das provações, as pessoas ao seu redor enxergarão em ti alguém com certo respaldo para consolá-las e encorajá-las e, em algum momento, tuas palavras farão sentido para elas,  porque estão apoiadas em muita experiência, muitas lágrimas e muita dor.

Experimentei isso em minha vida e sei o quanto muda nossa percepção do mundo quando sofremos um abalo profundo. Quando somos surpreendidos com tragédias pessoais, ficamos mais sensíveis às dores do outro e passamos a ter uma atitude compassiva e mais humana diante das dificuldades do nosso semelhante.

No próximo texto, continuaremos refletindo sobre esse tema, trazendo outros ensinamentos bíblicos sobre como Deus usa nossos momentos difíceis  para produzir vida e benção em nós e através de nós.

"O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã." (Salmo 30:5)

Que a maravilhosa graça e a paz do Senhor Jesus sejam com você.

Bruna Monastirski.
Discípula de Cristo.



Notas:

*Sobre a história de Jó, para aprofundamento, recomendo o livro do Pr. Tassos Lycurgo e Jai Jind, JÓ: TRAÍDO POR DEUS? ENTREGUE AO DIABO?

*Créditos da primeira imagem para Le Bullon








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