Há um propósito para o sofrimento? Parte final

"Meu filho, se você aceitar as minhas palavras e guardar no coração os meus mandamentos; se der ouvidos à sabedoria e inclinar o coração para o discernimento; se clamar por entendimento e por discernimento gritar bem alto, se procurar a sabedoria como se procura a prata e buscá-la como quem busca um tesouro escondido, então você entenderá o que é temer ao Senhor e achará o conhecimento de Deus." (Provérbios 2:1-5)




No post anterior, vimos como Deus pode usar nossos momentos de adversidades para nos fazer crescer e sermos canais de bênçãos na vida de outras pessoas.

Pretendo, agora, abordar as formas pelas quais reagimos às aflições e mostrar - no meu ponto de vista -, qual delas conduz ao crescimento espiritual e à maturidade cristã.
  
Diante das provações, podemos apresentar reações diversas. As mais comuns costumam ser:
  • Procurar culpados pelo nosso sofrimento e acusá-los;
  • Aceitar os acontecimentos, sem questioná-los nem tentar entendê-los; ou
  • Buscar compreender o que houve, à luz da Palavra de Deus, a fim de perceber se algo que eu fiz ou deixei de fazer abriu as portas para que o mal me atingisse.
Se você tem acompanhado essa série de textos, sabe que uma das explicações para os males que enfrentamos neste mundo está na lei da semeadura, no princípio do semear e colher, isto é, na regra que estabelece: o que eu plantar, isso também colherei (Gálatas 6:7). Logo, uma boa colheita é resultado de uma boa semeadura. 

Não devemos, de forma simplista, reduzir a explicação para todos os males do mundo à lei da semeadura. Este princípio bíblico é apenas um dos modos de compreender os problemas que nos cercam. 


Esta série de estudos tem o intuito de apresentar reflexões sobre o porquê do sofrimento humano e as lições que podemos aprender ao passar pelos vales que a vida nos apresenta*.

A reação mais desacertada que podemos ter (e, via de regra, todos a teremos em algum momento) é procurar culpados pelas nossas aflições. Em situações de dor intensa, em que a emoção por vezes silencia a razão, nossa tendência é apontar um ou mais responsáveis pelo cenário de dor e lutas no qual nos encontramos. Normalmente, culpamos os outros.  

Isso é muito comum em problemas conjugais. Com o coração ferido, os cônjuges só conseguem enxergar defeitos no parceiro, atribuindo-lhe toda a culpa pela crise conjugal. Dificilmente enxergamos os erros que há em nós. Esse tipo de reação, se for prolongada, faz com que as lutas se perpetuem e sejam ainda mais dolorosas.

Outra reação, também comum, é encarar o sofrimento, com resiliência, mas sem questioná-lo, sem procurar saber o que o provocou. Por vezes, usa-se alguma frase piedosa para justificar esse comportamento: "quem sou eu para questionar a Deus", "Deus sabe o porquê, não cabe a mim questionar", "Não preciso saber, apenas aceitar", entre outras. Esta é, geralmente, a reação de alguém com o coração temente ao Senhor, que sabe de sua insignificância perante o grande Criador do céu e da terra.

O problema que enxergo nesse tipo de atitude é que, se meu sofrimento atual tiver como causa algo que eu semeei no passado, dificilmente saberei, por ter preferido não refletir a respeito das provações que se abateram sobre mim.

Por fim, podemos encarar os desertos da nossa alma com os olhos atentos e  o coração aberto, para tentar compreender o que provocou aquela circunstância e se alguma atitude nossa contribuiu para que o mal nos atingisse.

O rei Davi, homem segundo o coração de Deus, sabia de sua condição de pecador, e escreveu estes versos, no Salmo 139:

"Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno". (Salmo 139:23-24)

Já vimos, em outro texto, que a Bíblia traz diversas advertências acerca da importância de semear o bem, como também promessas de bênçãos para aqueles que assim o fazem.

Portanto, é importante saber se alguma situação difícil que tenho vivenciado no presente é meramente a colheita de algo que fiz no passado. Essa via é dolorosa, porque somos confrontados com nossos próprios erros e é muito difícil aceitar que algo que fizemos deu espaço para que o maligno tivesse acesso à nossa vida ou à nossa família.



Mas apesar de toda a dor desse processo, ele é incrivelmente curativo e restaurador, e produz um bom fruto em nós. Aprender com os nossos erros é uma das formas mais eficazes de crescimento e amadurecimento, porque tem o potencial de gerar arrependimento e mudança de direção concretos.

O apóstolo Paulo, ao escrever a 2.ª Carta aos Coríntios, diz que a tristeza segundo Deus produz arrependimento e leva à salvação:

"Mesmo que a minha carta lhes tenha causado tristeza, não me arrependo. É verdade que a princípio me arrependi, pois percebi que a minha carta os entristeceu, ainda que por pouco tempo. Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte." (2 Coríntios 7:8-9)

Paulo disse estas palavras porque, em sua primeira carta àquela igreja, ele tinha sido bastante firme ao exortar o povo de Deus naquele lugar ao caminho de santidade e essa exortação havia gerado tristeza no coração dos irmãos de Corinto. Mas essa tristeza produziu no coração deles o arrependimento e gerou vida e salvação.

No Salmo 34, Davi afirma:

"O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido". (Salmo 34:18)

Davi sabia o que era ter o coração quebrantado diante de Deus. Ele reconheceu o seu pecado ao ser confrontado pelo profeta Natã (veja  2 Samuel 12). Após reconhecer os próprios erros, Davi compôs o Salmo 51, uma linda oração de contrição e arrependimento, na qual ele rasgou o seu coração diante do Senhor:

"Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões. Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado. Pois eu mesmo reconheço as minhas transgressões, e o meu pecado sempre me persegue. Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu minha mãe. Sei que desejas a verdade no íntimo; e no coração me ensinas a sabedoria. Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e mais branco do que a neve serei." (Salmo 51: 1-7)

Na epístola de Tiago, há um texto interessante sobre isso:

"Entristeçam-se, lamentem e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza". (Tiago 4:9)



Fora de contexto, pode parecer que o apóstolo está incentivando a atitude melancólica e depressiva. Mas, ao lermos todo o capítulo 4, entendemos que ele nos exorta quanto às nossas transgressões e ensina que, no que diz respeito ao pecado, devemos lamentar, ficar tristes e chorar. Essa é a postura que devemos ter ao nos percebermos pecadores e carentes da graça de Deus. Nos humilhar perante Ele, chorar por termos sido desobedientes e deixar a "alegria" do pecado pela tristeza do arrependimento. Lembrando que, conforme vimos acima, a tristeza pelos pecados produz salvação e não remorso.

Assim, Deus deseja que reconheçamos nossas falhas, não para ficarmos remoendo o passado e nos culpando por tudo, mas para que haja arrependimento sincero e mudança de vida. Quanto a isso, quero enfatizar que, havendo confissão de pecados e arrependimento, não devemos alimentar nenhum sentimento de culpa, pois nossos erros já foram perdoados por Deus e Ele não nos cobrará mais essa dívida. 

É o que diz a Palavra do Senhor, no livro do profeta Miquéias:

"Ó Deus, não há outro deus como tu, pois perdoas os pecados e as maldades daqueles do teu povo que ficaram vivos. Tu não continuas irado para sempre, mas tens prazer em nos mostrar sempre o teu amor. Novamente, terás compaixão de nós; acabarás com as nossas maldades e jogarás os nossos pecados no fundo do mar". (Miquéias 7:18-19).

Ao enfrentarmos a tribulação com o coração disposto a aprender e buscar conhecer a vontade de Deus, podemos superá-las e expandir esse aprendizado. Os sofrimentos pelos quais passamos farão diferença no nosso meio se encararmos esses momentos como tempo de aprender e crescer. Eles não são causados pelo Deus de amor que servimos, mas por nossas próprias escolhas ou pelo mal que atua neste mundo, no entanto, o Senhor, em sua misericórdia, cuida de nós nas ocasiões mais difíceis e nos ensina, com amor, a lidar com elas da melhor forma, a fim de sermos aperfeiçoados nEle.

Se você tem passado pelo vale, eu o encorajo a parar, olhar para dentro de si, conversar com o Senhor de coração aberto, pedindo a Ele que traga luz sobre essa situação, e te guie em toda a verdade. Ainda que não obtenha respostas claras, você encontrará nEle o alívio e o consolo que nada nem ninguém poderão te oferecer. Estando sensível à voz de Deus, você poderá passar pelas provas sem desfalecer e, encontrará motivos para prosseguir.

"Então vocês clamarão a mim, virão orar a mim, e eu os ouvirei. Vocês me procurarão e me acharão quando me procurarem de todo o coração." (Jeremias 29: 12-13)

Assim, concluo esta série de meditações relativas ao sofrimento humano, com gratidão ao Senhor por ter conduzido essas reflexões e nos ensinado mais de Sua Palavra, que liberta e vivifica.

Que a graça do Senhor seja sobre ti e que a paz que excede todo o entendimento transborde em teu coração, hoje e para sempre.

Até breve.


Bruna Monastirski.
Discípula de Cristo.




*Para ler outros textos desta série, clique : parte 1, parte 2, parte 3, parte 4 e parte 5.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Que Significa "aceitar Jesus"?

A Parábola do Semeador Parte 4: O solo pedregoso

A Parábola do Semeador Parte 6: O solo fértil